Sem manual, sem máscara: o que é ser mulher no mercado de trabalho hoje
- ABRH-RJ

- 14 de jul
- 2 min de leitura
Por Andrea Simões
Durante muito tempo, falar sobre mulheres no mercado de trabalho significava repetir diagnósticos que, embora reais, tornaram-se previsíveis: desigualdade, sobrecarga, falta de reconhecimento e escassez de referências. Mas o debate precisa evoluir.
A mulher de hoje já não cabe no papel da vítima silenciosa, nem na que se adapta a qualquer custo. O desafio é permitir uma liderança autêntica, onde força e vulnerabilidade coexistem.
Por que tantas ainda sentem que precisam abandonar partes de si para liderar? Por muito tempo, a estratégia foi a assimilação: adotar posturas mais duras, racionais, masculinas. Ser competente não bastava — era preciso provar que se tinha o “perfil”, quase nunca compatível com a essência feminina.
Falo com propriedade. Em parte da minha trajetória, escondi minha sensibilidade para me proteger. Era respeitada, sim, mas à custa de relações duras. Só com o tempo compreendi o quanto essa escolha silenciosa me afastou de conexões, inspiração e de uma liderança mais humana — que hoje considero não apenas possível, mas necessária.
Ainda há medo. Muitas organizações não estão preparadas para a transformação que a presença feminina propõe. O mais cruel: esse medo às vezes vem de outras mulheres, que, para manter o espaço conquistado, replicam estilos autoritários e agressivos.
Esse comportamento não é raro — é reflexo de uma cultura que associou dureza à eficiência. O resultado são ambientes hostis, lideranças que intimidam e talentos silenciados.
Mas há outro caminho. Diversidade não é mais bandeira de marketing: é ativo estratégico. Empresas que acolhem diferentes experiências e estilos colhem inovação, engajamento e resultados sustentáveis.
Nesse cenário, a liderança feminina tem papel essencial. Ela desafia modelos tradicionais e propõe uma cultura baseada em segurança psicológica, onde é possível errar, aprender, contribuir. Onde a confiança substitui o medo. Onde a sensibilidade se torna ferramenta de conexão.
Não se trata de idealizar mulheres. Existem lideranças tóxicas de ambos os gêneros. A questão é valorizar qualidades historicamente associadas ao feminino — empatia, escuta, colaboração — como competências centrais de uma nova gestão.
Com quase 30 anos de carreira, afirmo: a liderança genuína nasce do encontro com a própria voz. Nem sempre será a mais alta ou racional. Mas será a mais honesta.
A mulher no mercado de trabalho não precisa mais se moldar. Precisa de coragem para ser inteira. Para liderar com competência e humanidade. Para mostrar que ser firme e ser sensível não são opostos.
Essa jornada ainda é, muitas vezes, solitária. Mas não precisa ser. Valorizar a autenticidade, acolher em vez de julgar e reconhecer o valor do feminino em todas as suas formas é mais que abrir espaço para novas lideranças. É transformar, de fato, a cultura do trabalho.
E já passou da hora de isso acontecer.



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