Carreira de liderança em empresas privadas
- ABRH-RJ

- 6 de out.
- 6 min de leitura
*Henrique Gonzalez
A convite da Renata Filardi, presidente da ABRH-RJ, venho compartilhar um pouco da minha experiencia e escolhi falar sobre carreira nesse artigo. Meu objetivo é o de ajudar os mais jovens a pensar sobre suas carreiras para que façam boas escolhas, aprendam com as ruins e ajustem o rumo. O tema é muito abrangente, os leitores irão se identificar com alguns pontos e outros não.
Para contextualizar, minha experiência se desenvolveu em empresas privadas, multinacionais e nacionais por 35 anos. Hoje faço parte do conselho da ABRH-RJ.
Comecei minha carreira como estagiário em uma multinacional onde permaneci por 20 anos. Passei pelas áreas de Engenharia, Logística, Finanças e RH, onde conquistei uma posição de diretoria. Caramba, 20 anos numa só empresa? Isso, mas a cada 2 a 4 anos tive oportunidade de mudar os desafios. A cultura organizacional permitia e até estimulava essa rotação de áreas, para aqueles que assim desejassem. Vários colegas preferiram carreira especialista, problema nenhum, para a empresa também era bom, desde que todos se sentissem motivados e produtivos. A acomodação era o verdadeiro problema para os dois lados. Não há melhor ou pior, o que importa é a sua identificação e motivação por carreira generalista ou especialista.
Por que escolhi tanta rotação de cargos? O incentivo ao aprendizado sempre foi um valor muito forte na minha família e isso me norteou. O desafio de uma nova área me motivava a aprender as diversas linguagens dentro da empresa. Não era fácil encarar um novo cargo, sem experiência anterior, onde eu precisava de muita dedicação para aprender rápido, estabelecer relacionamentos com líderes, pares e time, além de entregar resultados consistentes em pouco tempo. Para quem gosta de mudança, o job rotation é extremamente motivador e formador de futuras lideranças versáteis e adaptativas. Para a empresa, renova ideias, acelera as mudanças e adaptações do negócio e principalmente desenvolve talentos.
Sempre parei para pensar na minha carreira para os próximos 3 anos, além de estabelecer um objetivo para longo prazo. Quando percebi que teria que trabalhar e estudar muito ao longo de toda a carreira decidi que deveria, então, me preparar para conquistar um cargo de diretoria, onde eu teria uma boa remuneração para compensar por esse trabalho duro, inevitável para quem quer ter sucesso. Estabelecer alvos ambiciosos certamente nos faz chegar mais longe.
Sou fã da educação formal, fazer mestrado e pós-graduações em boas instituições. Alguns desvalorizam a formação acadêmica porque tipicamente dão foco maior na teoria, onde muitas delas não serão aplicadas no trabalho diário. Contudo, o desenvolvimento teórico, num mestrado por exemplo, ensina a ser autodidata, a liderar, buscar novas soluções, ter senso crítico e principalmente desenvolver autoconfiança. A experiência virá com o tempo, de forma particular no desenvolvimento do seu trabalho e de sua carreira. Invista na sua educação!
Entender e cuidar do seu desenvolvimento pessoal também é fundamental. O exercício de busca periódica de feedback, informal e formal, será fundamental para sua carreira. Um feedback para desenvolvimento deve ser encarado como um presente. Ouça com bastante atenção e empatia, depois processe e decida o que pode melhorar e como fará para desenvolver seus comportamentos e habilidades. Apoie-se em suas forças, reconheça e cuide de melhorar suas fraquezas. Não fique tentando explicar e/ou justificar para você ou para outros seus erros, simplesmente reconheça e aprenda a fazer diferente, vire a página. As desculpas verdadeiras e os pensamentos limitantes só atrapalham a ter clareza sobre as mudanças que precisa fazer. As competências comportamentais são tão ou mais importantes quanto as técnicas. Há uma máxima que diz “você é contratado pelas competências técnicas e demitido pelas comportamentais”.
Desenvolva seu potencial com educação formal, autoconhecimento, novas habilidades, competências e comportamentos requeridos pelo mercado de trabalho. Nosso potencial pode e deve ser desenvolvido ao longo de nossa vida. O que é ser um talento com potencial dentro da sua empresa? Quais são seus gaps? Como se desenvolver? Converse com seu líder e com o RH. O reconhecimento do seu potencial virá de suas entregas e de seus comportamentos.
Estabeleça relacionamentos construtivos baseados em transparência e confiança, seus colegas de trabalho fazem parte da sua network e fortalecerão sua carreira ao longo do tempo, seja por trocas de ideias e conhecimento, seja para ajudar em uma mudança de cargo ou empresa no futuro. Participe de eventos, congressos, palestras, treinamentos em seu segmento de trabalho. Marque cafés e conversas com sua network e stakeholders, mantenha-se conectado!
Você sente a necessidade de mudar de cargo? Já fez seu papel de devolver com resultados o tempo que seu chefe dedicou ao seu desenvolvimento? Tipicamente leva-se uns 6 meses para aprender a nova função e é razoável permanecer contribuindo no cargo por pelo menos 2 anos.
Se já é hora de partir para outro desafio, busque primeiro oportunidades na própria empresa em que você já construiu sua reputação, desde que satisfaça suas necessidades de aprendizado e de crescimento profissional e pessoal. Numa nova empresa, sedenta por seus resultados no novo cargo, você também precisará de muita dedicação para construir novos relacionamentos e partir do zero para construir sua reputação por lá. Nunca decida sair apenas por mágoa ou sentimentos negativos em relação ao líder ou a empresa, primeiro avalie suas alternativas. Procure gerenciar os conflitos. Se movimente movido a sentimentos positivos, pois esses te trarão felicidade e serão percebidos pelos potenciais novos líderes.
Avalie se o segmento da empresa é promissor. A cultura organizacional está alinhada com seus valores? Quais são as possiblidades de carreira? Como posso me preparar para essas possiblidades? Existem alternativas em outras empresas? Nacionais ou multinacionais? Carreira internacional? Tem alguém do meu networking por lá? Explore alternativas e acione sua rede de contatos antes de tomar qualquer decisão.
Empresas Nacionais podem ter diferentes estágios de profissionalização, desafios e riscos. De um modo geral, há muito mais autonomia e poder de decisão, desde que haja um alinhamento permanente com o dono e ou conselho. As grandes oferecem muitas oportunidades de carreira e de desenvolvimento, pois tem processos de gestão de pessoas bem estabelecidos. As menores, em geral, em crescimento, possuem cargos bem abrangentes, maior delegação e processos ainda em estruturação. São ótimas para ganhar experiencias diversas, de forma antecipada na carreira. Tive passagens por subsidiárias menores e foi tudo muito intenso e importante para minha carreira.
Empresas multinacionais trazem maturidade no processo de governança, muitas opções de carreira, inclusive internacional, processos avançados de recrutamento interno e de desenvolvimento de talentos. Por outro lado, não oferecem muita autonomia para novos rumos e novas ideias. O escopo de cada cargo pode ser mais limitado dentro de uma engrenagem maior. Podem ser muito burocráticas e lentas no processo decisório, e requerem habilidade política de gestão de muitos stakeholders. São excelentes escolas de bons processos de gestão.
O planejamento é um ponto de partida, mas as oportunidades reais são únicas e podem ser novas e divergentes do planejado. Sempre estive aberto ao novo, nunca havia planejado trabalhar no RH. Foi um convite que apareceu e agarrei pelo foco no aprendizado. Com o tempo, feliz com o que eu fazia, decidi que dali para frente me tornaria um diretor especialista e referência em RH. Para tanto, precisava ampliar minha experiência com outras culturas organizacionais e novos segmentos de negócios, o que me fez trabalhar em outras organizações. Busquei também estar mais atuante na nossa entidade de classe, ABRH, contribuindo como voluntário e aprendendo muito com diversos colegas que admiro.
Enfim, carreira é algo vivo, que você precisa cuidar, não pode ser decidida por outros. Tem que ter planos para nortear, mas também tem que estar atento e aberto as oportunidades que aparecem. Alinhamento de valores e cultura organizacional trarão maior felicidade. A busca por novos conhecimentos, desafios e responsabilidades, com foco na entrega de resultados trarão reconhecimento e crescimento. O sucesso vem do seu trabalho duro e de assumir riscos. Só você é responsável, se houver fracassos no caminho aprenda com eles e seja persistente.
Procure trabalhar com líderes que você admira e que te ajudem a se tornar um candidato melhor para o próximo cargo. Fuja dos que não formam sucessores e não se movem da cadeira por pura acomodação e medo. Ao se tornar líder ajude seu time a se desenvolver e prepare potenciais sucessores!
Henrique Gonzalez
Conselheiro da ABRH-RJ.
Engenheiro pela Santa Úrsula, Mestre em engenharia pelo IME, pós em Finanças pela FGV, Gestão de pessoas pela Dom Cabral com INSEAD e Liderança por Wharton, possui ampla experiência na área de RH. Na Shell, empresa onde trabalhou por 20 anos, atuou nas áreas de engenharia, logística, finanças e RH para Brasil e América Latina. Foi Diretor na DPaschoal de 2009 a 2010. Esteve à frente da diretoria de RH do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio2016, de 2011 a 2016. Atuou como Diretor de RH na Prumo Logística (Porto do Açu) de 2017 a 2021. Hoje, atua como Conselheiro da ABRH-RJ e se dedica a projetos pessoais.


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