GERAÇÕES MÚLTIPLAS
Um dos grandes desafios para os gestores no mundo atual é a presença de três ou quatro gerações em uma mesma organização. O aumento da longevidade e da formação contínua tem tornado cada vez mais comum a convivência no mesmo ambiente de trabalho dos Baby Boomers (1946 a 1964); da geração X (1965 a 1979); da geração Y (1980 a 1994); a Geração Z, a IGen ou Millenial (1995 a 2012) e logo receberemos a geração Alpha , que já nasceu digital, a partir de 2010.
Essa diversidade geracional e as diferentes características de cada uma delas vêm fazendo com que situações até então aceitas sem contestação – como jornadas sem flexibilidade de tempo e de espaço; falta de equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal; rotina burocrática e repetitiva; ambientes que reprimem a diversidade e a criatividade e normas e códigos de conduta muito formais – sejam vistas hoje como coisas do passado.
Para a escritora americana Tamara Erickson, especialista no estudo das gerações múltiplas, os líderes precisam criar ambientes em que pessoas de todas as idades se sintam bem-vindas e respeitadas. Além disso, os estilos de liderança devem ser adaptados para trabalhar com cada geração e também devem ser consideradas as implicações no planejamento de sucessão.
A questão tende a se tornar ainda mais desafiante com a chegada da Geração Alpha, nascida a partir de 2010, a primeira 100% digital e, agora, a que vivenciou a vida virtual em tempos de pandemia, inclusive as aulas. Essa geração vai exigir mais flexibilidade na forma com que irão trabalhar, pois estão acostumados a realizar tarefas e resolver problemas por seus próprios caminhos, sem padrões preestabelecidos. Como o cenário aponta que essas atividades poderão ser transferidas para a inteligência artificial ou robotizadas, as pessoas terão que trabalhar com mais criatividade e autonomia.
A boa notícia é que a pesquisa de Tamara, concluiu que terão mais sucesso e serão mais produtivas as empresas que entenderem a diversidade geracional como a oportunidade de se planejarem para aproveitar os pontos fortes de cada grupo etário, em prol de uma maior produtividade e, consequentemente, com melhores resultados para as organizações.
As gerações montantes promovem o progresso e a mudança, reexaminando todo o patrimônio cultural da sociedade. O mundo vai se enriquecendo, o conhecimento dos mais velhos se somam ao dos novos, ampliam nossa visão.
Esse fenômeno acontece também nas organizações. Mesmo sem prover mudanças bruscas, as empresas vão se modificando pela simples entrada de novas gerações, no seu quadro de empregados, nas lideranças, nos clientes, nos fornecedores.
Os que chegam assimilam e criticam a cultura existente e gradativamente vão impondo novas práticas, ideias e valores. Não necessariamente piores ou melhores, mas uma nova forma de ver e fazer as coisas.
Por outro lado, há os que saem, se aposentam, morrem, levando todo um conhecimento e experiência que nem sempre é possível transmitir . É um ciclo permanente de renovação.
As empresas enfrentam um permanente paradoxo. O que fazer manter a mesma essência que a levou ao sucesso? O que fazer para acompanhar as mudanças do mundo? E como fazer tudo isso ao mesmo tempo?
Em primeiro lugar, tomar cuidado com a ruptura. Na pressa de implementar mudanças podem se perder informações-chave da organização. É preciso identificar os pilares do conhecimento organizacional, o aprendizado das experiências acumuladas ao longo do tempo. À primeira vista podem ser descartados, acidentalmente, conhecimentos adquiridos em ciclos mais longos. Ciclos que vão desde as estações do ano, dos grandes eventos, da sazonalidade, dos movimentos da sociedade.
Também é preciso estimular permanentemente a gestão do conhecimento, do aprendizado em todas as suas formas, principalmente na troca entre gerações. Criar um ambiente organizacional que incentive o aprendizado, com ferramentas e processos que facilitem o repositório e pesquisa ativa da memória da instituição. E um modelo de gestão que compartilhe informações sobre a tomada de decisão. Quanto mais colegiada e integrada, maior a chance de transmitir para os sucessores o que funcionou ou não e por quê. Isso tudo sem tirar o frescor das novas ideias, essas sim, podem ser disruptivas, criativas, inovadoras. O mesmo ambiente que preserva o saber, estimula a inovação. Impossível?
Não mesmo. Basta olhar o mundo ao redor. Onde convivem a música clássica, o chorinho, o rap. O livro, a TV e as redes sociais. O novo com o antigo, numa mistura do que fomos, do que somos e seremos. Nem melhor, nem pior, mas fruto de um talento, de um tempo.
Palavras-chave: Multigerações, diversidade, robótica, criatividade, autonomia
Fontes:
– Entrevista de Lucia Madeira na Revista Gestão & Negócios – “Vem aí a Geração Alpha”.
– Entrevista com Tamara Erickson realizada por Myrna Brandão para a ABRH-RJ.
- Artigo Gerações Montantes para o Boa Chance.
Características de cada Geração
Uma geração pode ser definida não apenas cronologicamente mas, principalmente, por dimensões psicológicas e sociológicas e pelo senso de pertencimento e identidade.
As classificações mais utilizadas são resultado de uma combinação particular de fatores como demografia, atitudes, eventos históricos, econômicos e culturais, que marcam uma época e fazem com que os nascidos naquele período compartilhem experiências e características comuns.
Com as novas tecnologias trazendo mudanças cada vez mais rápidas, os ciclos geracionais têm ficado cada vez menores, não mais atrelados à visão de sucessão de pais , filhos e netos e, sim, às experiências comuns a determinados grupos.
Baby Boomers 1945 – 1964:
Inclui pessoas nascidas após o final a Segunda Guerra Mundial, quando houve um grande aumento na taxa de natalidade, a explosão de nascimentos ou “Baby Boom”. Fortemente influenciados pelo surgimento da TV e crescimento dos meios de comunicação.
Principais características: fiel aos seus pontos de vista, essa geração dificilmente se deixa influenciar por terceiros. São observadores atentos do que acontece pelo mundo e às notícias em geral. Por isso, mesmo mais velhos, não deixam de se atualizar e ter curiosidade em aprender.Estudiosos e disciplinados, buscavam carreira e conseguiram estabilidade financeira e material.
1965 e 1980: Geração X
Foi marcada pela contestação de costumes e valores e a chegada dos primeiros computadores. Esse grupo vivenciou o fim da ditadura, a liberdade sexual e outros importantes movimentos sociais. Aproveitou ainda um momento de crescimento econômico e mercado de trabalho em expansão.
Principais características: emprego e carreira, busca por seus direitos e a convivência em grupo.
1980 – 1995: Geração Y
A Geração Y viveu desde cedo em um mundo globalizado. Também conhecidos como Millennials, eles passaram pelo intenso desenvolvimento da tecnologia e a popularização da internet em 1990. Cresceram em uma época de muita prosperidade econômica e as crianças em geral tiveram condições financeiras melhores do que seus pais, tendo acesso à TV a cabo, computador e videogame.
Principais características: otimismo, imediatismo, hábito de fazer várias tarefas ao mesmo tempo, gosto por novas tecnologias, busca por propósito e flexibilidade no trabalho, preocupação com o meio ambiente e com causas sociais.
1995 – 2010: Geração Z, Millenial ou IGen
São familiarizados com as tecnologias móveis, que estão conectadas com todas as partes de suas vidas. Os primeiros integrantes dessa geração já são adultos, e nunca viram o mundo sem a presença de computadores, tablets e celulares. Em relação à carreira, essa geração não acredita na ideia de exercer uma mesma função para o resto da vida.
Principais características: ansiedade, responsabilidade social, desapego de bens e mobilidade geográfica. São inovadores, criativos, conectados e desejam criar de forma colaborativa.
Geração Alpha
As crianças nascidas a partir de 2010, ano de lançamento do primeiro iPad , já são conectadas desde os primeiros meses de vida, sendo conhecidas como nativos digitais. Para elas não existe separação entre o digital e o mundo real. A tecnologia é a principal forma de conhecer e interagir com o mundo. Por outro, lado são mais abertos à diversidade, encarando as diferenças com mais naturalidade.
Os Alphas aprendem fazendo e precisam de ambientes que estimulem conhecimento pela resolução de problemas. Para conviver com um mundo de transformações cada vez mais aceleradas, como a inteligência artificial e a robótica precisarão se diferenciar pelas competências humanas, como a empatia e a criatividade.