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Remuneração Reimaginada: Estratégia, Sentido e Inteligência Artificial

Antonio Linhares


Estamos vivendo um momento de profundas mudanças no mundo do trabalho – e a forma como desenhamos, gerimos e comunicamos a remuneração precisa urgentemente acompanhar essa transformação. O que antes era visto apenas como pacote financeiro e benefícios, hoje precisa ser abordado como parte de uma estratégia ampla, conectada à cultura, ao propósito e à experiência das pessoas. A remuneração está deixando de ser apenas ferramenta de atração e retenção e se tornando um espelho do que a organização valoriza.

 

É preciso, desde já, abandonar o pensamento centrado exclusivamente em motivadores extrínsecos – salário, bônus, incentivos financeiros. Embora ainda necessários, eles representam apenas a base fisiológica de uma pirâmide de Maslow teórica. São pré-condições. É no topo da pirâmide que encontramos os verdadeiros motores do engajamento: os motivadores intrínsecos, como o senso de pertencimento, o reconhecimento não financeiro, a autonomia, o aprendizado contínuo e, sobretudo, a inspiração que vem da cultura e da liderança.

 

Nesse novo cenário, onde ansiedade, depressão e burnout crescem silenciosamente dentro das organizações, o papel da remuneração também é cuidar. Cuidar da coerência entre discurso e prática. Cuidar do equilíbrio entre recompensa e saúde mental. Cuidar do impacto que os modelos de incentivo podem ter sobre a pressão e o bem-estar das pessoas. Modelos mal desenhados, mesmo se generosos financeiramente, podem gerar desequilíbrios que custam caro – para as empresas e para os indivíduos.

 

Paralelamente a isso, vivemos a ascensão da inteligência artificial como ferramenta de apoio ao trabalho. Os agentes de IA já estão presentes em muitas atividades e, em breve, estarão tão – ou mais – integrados ao nosso dia a dia quanto o Excel. Assim como hoje ninguém em áreas corporativas sobrevive sem planilhas, em pouco tempo será impensável exercer atividades de RH, finanças ou estratégia sem saber interagir com assistentes inteligentes. A IA será nosso novo Excel.

 

Isso exige que os profissionais de remuneração – e de RH como um todo – desenvolvam rapidamente fluência em engenharia de prompts, ou seja, a habilidade de conversar com a IA, direcioná-la corretamente e interpretar suas respostas. A IA já pode assumir boa parte das tarefas operacionais e táticas da área: rodar simulações salariais, gerar tabelas, cruzar dados de mercado, comparar faixas, calcular custos. Isso nos libera tempo precioso. E tempo, neste contexto, é espaço para pensar estrategicamente.

 

Com esse tempo liberado, ganhamos a oportunidade de focar no que realmente diferencia um profissional de remuneração no século XXI: visão crítica, leitura de contexto, capacidade de gerar insights relevantes e – talvez o mais importante – de comunicar tudo isso com clareza e impacto. Saber construir um storytelling convincente sobre a estratégia de remuneração é hoje uma das habilidades mais valorizadas. Afinal, de nada adianta ter dados corretos se não sabemos construir entendimento e conexão.

 

O desenho de modelos de remuneração também precisa se atualizar. As estruturas organizacionais estão cada vez mais ágeis, fluidas e baseadas em times multidisciplinares. Modelos rígidos, com faixas fixas e tabelas centralizadas, não respondem à velocidade dessas transformações. Precisamos de abordagens mais dinâmicas, que equilibrem justiça interna com flexibilidade e agilidade externa. Isso significa reavaliar as bases do modelo tradicional.

 

Nesse caminho, o conceito de Pay for Skills ganha força frente ao tradicional Pay for Performance. Hoje, mais do que premiar por metas entregues, o mercado começa a valorizar quem tem as habilidades certas para o futuro. Isso inclui adaptabilidade, pensamento crítico, colaboração e aprendizado contínuo. Reconhecer e recompensar essas competências passa a ser um imperativo estratégico.

 

Para isso, o repertório dos profissionais da área precisa ser constantemente ampliado. É necessário sair da bolha da remuneração, viver outras experiências, entender o negócio, atuar em diferentes frentes, dialogar com tecnologia, finanças, operações. Essa diversidade fortalece o pensamento sistêmico e desenvolve o mindset necessário para lidar com problemas complexos.

 

Importante lembrar: conhecimento técnico pode ser transferido. Mas a sabedoria – que permite decidir, interpretar e adaptar com sensibilidade – só vem da experiência. Profissionais experientes, que aliam vivência prática ao domínio da IA, têm hoje uma vantagem clara. Saber como obter os melhores resultados com os agentes de IA será cada vez mais um diferencial competitivo.

 

O futuro da remuneração passa por uma mudança de eixo: da transação para a experiência, da tarefa para a estratégia, da técnica para o impacto humano. É hora de redesenhar nossos modelos, nossas competências e, acima de tudo, nosso propósito. Remuneração, no fim das contas, é sobre valor. E valor, mais do que números, é significado. **Artigo escrito por Antonio Linhares. Mestre em Administração de Empresas pela PUC Rio, com formação em Liderança por Harvard, MBA Executivo pela COPPEAD – UFRJ, pós-graduação em RH e bacharelado em Administração pela PUC Rio. Atualmente é Diretor de Gente da Energisa. Atua também como Conselheiro da ABRH RJ, membro do Conselho Global da World at Work (Associação Global de Remuneração), Conselheiro do Camp Mangueira, Conselheiro do IBEU, como Vice-presidente do Conselho Executivo de Gestão de Recursos Humanos e Desenvolvimento Organizacional da Associação de Comercio do Rio de Janeiro e professor convidado de pós-graduação em instituições como FGV e IBMEC

 

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aa cabb
aa cabb
há 5 dias

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